sábado, 18 de agosto de 2012

PROPOSTA DE TRILHA ECOLÓGICA NA BARRA DO RIO MAMANGUAPE – PB

BARRA DO RIO MAMANGUAPE


PROPOSTA DE TRILHA ECOLÓGICA COMO ATRATIVO ECOTURÍSTICO NA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DA BARRA DO RIO MAMANGUAPE – PB
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Marília Maria Silva da Costa
Universidade Federal da Paraíba – UFPB
marilia.costta@hotmail.com

Edvaldo Beserra da Silva
Universidade Federal da Paraíba – UFPB
edbesilvapb@hotmail.com

Leonardo Figueiredo de Meneses
Universidade Federal da Paraíba- UFPB
lfmeneses@hotmail.com
RESUMO
O ecoturismo é uma atividade estruturada nos moldes da sustentabilidade, por isso, baseia-se na conservação, na conscientização, através da educação ambiental, e no desenvolvimento local mais sustentável. As trilhas, quando bem planejadas e devidamente mantidas, protegem o ambiente dos impactos de seu uso, além de proporcionar aos visitantes maior conforto, segurança e conscientização ambiental. Este trabalho tem como objetivo apresentar uma proposta de trilha ecológica para a Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape – PB, e mostrar a importância desta atividade para a unidade de conservação, considerando pontos importantes como a valorização da natureza aliada ao ecoturismo e a abordagem do mesmo como ferramenta a favor do desenvolvimento sustentável tendo como características aliar o lazer à preservação da natureza, evitando ainda os impactos negativos sobre o meio ambiente, a cultura e a estética das comunidades nela inseridas. As técnicas de interpretação ambiental, envolvidas na execução de trilhas ecológicas, se fundamentam na captação e tradução das informações do Meio Ambiente e não lida apenas com a obtenção de informações, mas com significados, buscando, assim, firmar conhecimentos e despertar para novos, criar perspectivas e questionamentos, despertar para novas perspectivas, incluindo a participação da comunidade e trabalhando a percepção, a curiosidade e a criatividade humana.

Palavra chaves: Trilha Ecológica, Ecoturismo, Unidade de Conservação. 

INTRODUÇÃO
Ecoturismo ou turismo ecológico é um segmento do turismo que envolve patrimônios e belezas naturais. Incentiva a formação de uma consciência ambientalista e a conservação da natureza. Sendo um dos segmentos do Turismo ligado à natureza, o qual estimula a prática de caminhadas, passeios ao ambiente natural a pé, através das trilhas ecológicas ou sob tração animal aproximando o homem com a natureza. O Ecoturismo é uma atividade que busca valorizar as premissas ambientais, sociais, culturais e econômicas conhecidas de todos nós, e inclui a interpretação ambiental como um fator importante durante a experiência turística (CARVALHO, 2004).
A utilização de trilhas ecológicas tem como sua finalidade aproveitar os momentos de lazer do visitante para a transmissão de conhecimentos, pois á compreensão dos processos e acontecimentos ali presentes se tornam mais fácil através do contato com a paisagem, tanto do ponto de vista recreativo quanto educativo.  Além disso, as trilhas podem representar uma ferramenta útil para o manejo de áreas protegidas, uma vez que concentram o uso mais intenso em uma pequena área da Unidade de Conservação - UC, evitando assim que outras áreas mais sensíveis ou ecologicamente importantes sejam afetadas pelo pisoteio ou pela presença humana (MAGRO,1999).
A principal atividade realizada em trilhas é o desenvolvimento de caminhadas de curtas a longas distâncias. As trilhas servem, ainda, como caminho aos atrativos ecoturísticos, além de serem utilizadas pelas populações residentes, dentro ou no entorno das UC, a fim de atenderem suas necessidades de deslocamentos para realizar atividades de subsistência, tais como ligação entre sítios de agricultura e as residências, extrativismo, pesca etc. Essa diversidade de usos é fator relevante, seja para o visitante (ecoturista) ou para a população residente, já que a perpetuação do traçado em trilha é assegurada na prática das ações sobre ela (CASTRO, 2004).
Levando-se em consideração que a APA da Barra do Rio Mamanguape é uma UC da categoria de uso sustentável e que essa categoria tem como objetivo básico a conservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, verifica-se então a possibilidade de realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico em seu interior. Salienta-se ainda que o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), Lei Federal n° 9985/00 (BRASIL, 2000), estabelece que atividades educativas, recreativas e de interpretação ambiental devem ser promovidas pelas UC, seguindo os propósitos de cada categoria de manejo. Uma das maneiras de atingir tais objetivos se dá por meio da visitação, que propicia ao visitante a oportunidade de conhecer, de forma lúdica, os atributos e valores ambientais protegidos pela UC. A visitação em áreas protegidas, quando bem controlada, pode constituir importante ferramenta nos âmbitos ambiental, social, econômico e político, devendo, portanto, ser utilizada dentro de critérios técnicos bem estabelecidos (MMA, 2006).
A prática de trilha ecoturística na Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape, encontra-se pautada pelo Decreto n°. 924 de 10 de setembro de 1993, através do qual a UC foi legalmente criada, onde um dos seus objetivos principais é disciplinar as atividades que geram economia local, uma vez que são escassas essas atividades na área de estudo, propondo-se a realização de trilhas ecológicas como uma das ferramentas para a concretização desse objetivo.


MATERIAIS E MÉTODOS
A Área de Proteção Ambiental Barra do Rio Mamanguape é a única de responsabilidade federal no Estado da Paraíba. Foi consolidada pelo Decreto Federal 924/93 (BRASIL, 1993) e hoje a unidade encontra-se gerida pelo ICMBio e Ministério do Meio Ambiente. Compreende diversos ecossistemas, como áreas de restinga, lagunas, estuários, manguezais e arrecifes ocupando uma área total de 14.460 ha.(SILVESTRE et al, 2011).

APA abriga os principais remanescentes de manguezais do Nordeste brasileiro, que têm no Rio Mamanguape, que dá nome à APA, e no Rio Miriri, os habitats naturais de preservação de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção, motivo inicial de criação dessa Unidade de Conservação (RODRIGUES, et al 2008).

A APA limita-se ao norte com os municípios de Marcação e Baía da Traição, a oeste com o município de Rio Tinto, ao sul com o município de Lucena e a leste com o Oceano Atlântico (CABRAL, et al2009).

Figura 01- Área de estudo

A trilha realizada como objeto de estudo da presente pesquisa, é relativamente curta contendo aproximadamente 1,72km, tendo início e término próximos à sede do Projeto Peixe-Boi e podendo ser feita por estudantes da região, turistas e moradores locais. Foram realizadas duas visitas a APA, nos meses de Março e Abril do corrente ano, nas quais foi percorrida toda a extensão da trilha, analisando-se o percurso e condições de conservação e facilidade de circulação.
Para a produção do mapa da trilha foi utilizado os seguintes procedimentos: obtenção da imagem de satélite através do Google Earth, em seguida realizado o georreferenciamento por meio do Sistema de Informação Geográfica – SIG, SPRING 5.1.8 e o layout e demais ajustes feitos através do SIG Terraview 4.0. Para facilitar a avaliação e a posterior descrição dos dados, a trilha foi dividida em trechos de acordo com as principais características encontradas e com os temas a serem abordados em cada trecho.



RESULTADOS
Neste trabalho foi realizada uma trilha ecológica na qual foram abordados os temas/conteúdos abaixo:

  • Unidades de conservação: onde foi definido o que é uma Área de Proteção Ambiental (APA), e os objetivos da UC em estudo que são proteger a biodiversidade, disciplinar o processo de ocupação e assegurar o uso dos recursos naturais. Outro objetivo importante da APA da Barra do Rio Mamanguape é a proteção do Peixe Boi (Trichechus manatus), pois ali se encontram vários indivíduos da espécie.

  • Geoconservação: em sentido amplo, tem como objetivo a utilização e gestão sustentável de toda a geodiversidade, englobando todo o tipo de recursos geológicos (BRILHA 2005). No percurso da trilha podem ser observados três geossítios (estuário do rio Mamanguape, recifes areníticos, dunas).

  • Importância das Dunas costeiras (Figura 02), que correspondem a estruturas móveis resultantes da acumulação de areias transportadas da praia para o pós-praia pela ação dos ventos, aliando-se também à fatores de disponibilidade de sedimentos, densidade e tipo de vegetação, taxas de acresção e erosão eólica e a frequência e intensidade da energia marinha e  juntamente com a praia caracteriza uma dinâmica responsável por manter a estabilidade natural e ecológica onde a vegetação também exerce uma função de extrema importância no processo de fixação e desenvolvimento das dunas, sendo considerada pela legislação ambiental brasileira como uma Área de Preservação Permanente (APP), qualificando assim, a sua vital importância para o ecossistema costeiro (MEDEIROS, 2012).



Figura 02- Dunas da APA. Fonte: Vitor Melo

  • Importância da preservação de Tartarugas Marinhas, pois na região são encontradas duas espécies (Eretmochelys imbricata - tartaruga de pente; e Chelonia mydas - aruanã ou verde).  Das espécies presentes, acredita-se que apenas a tartaruga de pente desova naquela localidade, enquanto as outras aparecem apenas para alimentação ou migração sazonal.  Salienta-se que as espécies ali presentes vêm sofrendo com a poluição do mar por excesso de lixo que se encontra presente, pois as tartarugas os consomem e o plástico é um dos principais, pois pode ser confundido por águas vivas que servem para o seu alimento. Também foram abordadas questões como o consumo de carne e dos ovos das tartarugas, bem como outra ações antrópicas que afetam diretamente a dinâmica das tartarugas, tais como a ocupação desordenada do litoral e a pesca.

  • Importância dos recifes areníticos (Figura 03), distribuídos ao longo da desembocadura do rio Mamanguape e próximo a cidade da Baia da Traição (ao Norte da área). Os recifes impedem que a maré ganhe força total e atenua o processo de erosão costeira, além de se constituir de habitat de diversos organismos como: ouriços-do-mar, peixes recifais, anêmonas, crustáceos, etc.


Figura 03- Recife Rochoso. Fonte: Vitor Melo

  • Manguezal, que na porção estuarina da APA abrange uma vasta extensão, com aproximadamente 6000 ha, representando a maior área de mangue do Estado da Paraíba. Este manguezal apresenta-se como um dos mais preservados do Estado, apesar da influência antrópica com a retirada de madeira pelos ribeirinhos, do cultivo da cana de açúcar e da implantação da carcinicultura (ALVES & NISHIDA, 2003). A composição florística típica do manguezal do rio Mamanguape é representada pelas espéciesRhizophora mangle (mangue vermelho), Avicennia germinans e A. schaueriana (mangue canoé) e Laguncularia racemosa (mangue branco) e Conocarpus erectus (mangue de botão). Entre os elementos faunísticos estão presentes peixes, crustáceos e moluscos, constituindo as principais fontes de subsistência para as comunidades ribeirinhas, que fazem uso desses elementos por meio de instrumentos artesanais adequados a cada tipo de recurso e selecionados sob a influência das marés e fases da lua (MOURÃO, 2000 apud ROCHA 2010).

Na Figura 04 pode-se observar o mapa produzido para a trilha ecológica, no qual estão indicados os pontos de parada definidos, nos quais são tratados os temas anteriormente mencionados. Estima-se que a trilha possua cerca de 1,72 km na totalidade de seu percurso.  A trilha é em geral ampla, seu ponto mais alto fica na área de dunas e o mais baixo encontra-se pouco acima no nível do mar (na praia) como mostra a figura 6.

Figura 04 – Mapa da Trilha
Durante a primeira visita, a trilha foi subdividida em cinco trechos, onde as principais características de cada trecho foram:
Trecho 1 : predomínio de declividade mediana,  trilha estreita e com vegetação de pequeno porte;
Trecho 2 : predomínio de declividade alta (dunas), trilha ampla e com vegetação de pequeno e médio porte;
Trecho 3: predomínio de declividade baixa (praia), trilha ampla e com  presença de resíduos sólidos  e pouca vegetação;
Trecho 4 : predomínio de declividade mediana (praia), trilha ampla e com vegetação de pequeno porte;
Trecho 5 : predomínio de declividade baixa (mangue), trilha ampla e  presença de mangue sem vegetação, como também a sua fauna (Figura 06).
 
Figura 05– Elevação da Trilha. Fonte: Google Earth

        Figura 06 – Mangue sem vegetação. Fonte: Vitor Melo

CONCLUSÃO
As trilhas ecológicas são ferramentas de educação ambiental muito eficaz, porém, se mal administradas podem se tornar um agravante na degradação ambiental de uma área que precise ser preservada. As trilhas devem ser planejadas e manejadas de modo a maximizar a conscientização ambiental do visitante e minimizar os impactos que estes podem acarretar. A melhoria e divulgação da trilha é uma das necessidades mais emergentes da APA, já que envolve o bem-estar de seus visitantes, além de constituir uma importante ferramenta para a educação ambiental. Para que sua implementação tenha um efeito positivo, é recomendável que sejam desenvolvidos outros projetos na Unidade de Conservação, sendo um deles a capacitação de monitores. A APA da Barra do Rio de Mamanguape é um importante local para recreação e educação ambiental no Litoral Norte da Paraíba, proporcionando interação entre a população e o meio ambiente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ALVES, R. R. N.; NISHIDA, A. K. Aspectos socioeconômicos e percepção   ambiental dos catadores de caranguejo-uçá, Ucides cordatus cordatus (L. 1763) (Decapoda, Brachyura), no estuário do Rio Mamanguape, Nordeste do Brasil. Interciência, v. 28, n. 1, p. 36-43, 2003.

BRASIL. Lei Federal n. 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências, 2000.

BRASIL. Decreto n° 924, de 10 de setembro de 1993. Cria a Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape, no Estado da Paraíba e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF. 1993

BRILHA, J.B.R. Patrimônio geológico e geoconservação. A Conservação da Natureza na sua vertente Geológica. Viseu, Palimage Editores. 2005.

CASTRO, C. E. O caminho entre a percepção, o impacto no solo e as metodologia de manejo. O estudo de trilhas do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira- SP. 2004. 153p. Dissertação (Mestrado). Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2004.

CABRAL, C.S. [et al]. DIAGNÓSTICO DA BIODIVERSIDADE E IMPLEMENTAÇÃO DE GESTÃO SUSTENTÁVEL NA APA DA BARRA DO RIO MAMANGUAPE (PB). Centro Científico Conhecer - ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Goiânia, vol.5, n.8, 2009.

CARVALHO, V. F. Origem e desenvolvimento do ecoturismo no Brasil. Revista Turismo. 2004. Disponível em <revistaturismo.com.br/artigos/origem-desenv.html> Acessado em 13/06/20012.

MAGRO, T.C. Impactos do Uso Público Em uma Trilha no Parque Nacional do Itatiaia. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, Escola de Engenharia de São Carlos (Ciências da Engenharia Ambiental). São Carlos, 1999, 135p.

MEDEIROS, S. C. O. de. Caracterização das dunas da área de proteção
ambiental da Barra do Rio Mamanguape, PB.
 Monografia. Universidade                    Federal da Paraíba. 2012.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Diretrizes para Visitação em Unidades de Conservação. Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Biodiversidade e Florestas, Diretoria de Áreas Protegidas: Brasília, DF. 2006. 61p.

RODRIGUES, G. S. [et al.]. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento: Gestão Ambiental Territorial na Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape (PB).Jaguariúna – SP: Embrapa Meio Ambiente, 2008.

ROCHA, M.S. P. Mulheres, manguezais e a pesca no estuário do Rio Mamanguape, Paraíba / Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal da ParaíbaB/CCEN. João Pessoa: [s.n.], 2010.

SILVESTRE, L. C.; [el al].. Diagnóstico dos impactos ambientais advindo das atividades antrópicas na APA da Barra do Rio Mamanguape.          Enciclopédia biosfera, p. 2, 2011.

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